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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Maratona de Madrid e a Festa da Cidade



Já ando nisto das corridas há algum tempo e, por isso, já sei que as coisas nunca são bem como nos contam que são. Digam o que disseram de uma prova, por já lá terem estado (por exemplo), quando nós lá chegamos, a nossa perceção é diferente. E eu não podia começar este post sem falar nos segundos (ou primeiros?) heróis da Maratona de Madrid: o público! Já me tinham dito que o apoio do público era uma coisa extraordinária, incansáveis a dar-nos ânimo e que as ruas estariam cheias. Mas isto não reflete a verdade. A verdade é que é tudo o que disseram quase elevado ao infinito! É surreal ver tanta gente nas ruas aos gritos por pessoas que não conhecem, a dar ‘high five’, a olhar-nos nos olhos e chamar-nos ‘campeones’, a aplaudirem enquanto todo o pelotão passa, apitos e megafones para se fazerem ouvir ainda mais alto, mensagens de apoio espalhadas pelas ruas da cidade, paredes de pessoas que nos deixavam apenas 2 metros de largura para correr. Tudo isto debaixo de uma chuva torrencial. Sim, ninguém quis saber da chuva para nada. Estavam lá, nas ruas, durante todo o percurso a apoiar os loucos que estavam a correr. Quem corre sabe o calor e energia que isto nos dá, e aqui soube melhor ainda com a chuva que se fazia sentir. Correr uma maratona com este tipo de público é uma experiência que todos deveriam viver, pelo menos uma vez na vida. A todos os que apoiaram os atletas, aos heróis que ali estiveram do principio ao fim, o meu muito obrigado!


Mas vamos retroceder, muito sucintamente, até ao tiro da partida.
Estacionei o carro em Madrid por volta das 11h de sábado. Tinha saído de Lisboa às 4:30 da manhã e percorri cerca de 630kms para correr 42,195kms. Parece-me bem. Depois do fazer o check in no hostal, fui apanhar o metro até à feira da corrida para levantar o dorsal. Quando lá chego, vejo uma fila considerável de pessoas. Começo a ir para o fim da fila, mas e vê-lo? Andei, andei, andei. Continuei a andar. Depois de 1km de fila, ouço o Joel a chamar por mim, a dizer-me para ali ficar já com ele, senão estava tramado. E a verdade é que demorámos 1:30h para entrar na feira. Demorei 2minutos a levantar o dorsal, pois aquilo estava quase vazio. A organização explicou no facebook que o atraso se devia à empresa de segurança, que estava a bloquear as pessoas e a deixar entrar muito poucas, com a desculpa da lotação do recinto. A organização juntou duas fotos ao comunicado, com o pavilhão vazio. Depois do dorsal levantado, hora de ver as bancas. Ao ver a da Maratona de Lisboa, vou até lá, por algo que me despertou o interesse: as palavras ‘FREE ENTRY’ em grande. Numa ação promocional, estavam a oferecer a inscrição na maratona e eu aproveitei logo! Saí dali e fui para a Pasta Party. Um pavilhão enorme repleto de gente a encher-se de hidratos com a massa, o pão, a laranja e banana que estavam a dar. Como fui com a namorada, a seguir ao almoço fomos passear um pouco pela cidade. Quem diz um pouco, diz percorrer alguns bons kms. Quando os pés já doíam um pouco, fomos para o quarto descansar até ser hora de jantar. Quando saímos, surpresa, chuva. Nada de muito intenso, mas o suficiente para eu pensar que amanhã estava tramado caso continuasse assim. Pelo caminho voltámos a encontrar a trupe do Joel que tinham vindo para onde íamos: Museo del Jámon. Deliciámo-nos com uma Paella, uns enchidos, uns queijos e uma sangria tinta. Estava, portanto, a ter uma refeição de campeão. Depois do jantar, quarto para preparar tudo para a manhã seguinte.
No domingo quando acordamos, estava a cair aquela chuva ‘molha parvos’, o que não me agradou muito. Descemos até ao local da partida, vimos as ruas cheias de atletas e apoiantes, despedi-me do meu amor (que é incansável a seguir-me nestas loucuras) e fui para o meu bloco. Aqueci um pouco, mentalizei-me do que ia fazer, entrei no meu estado zen e esperei pelo tiro da partida. Sobre a corrida, posso dividi-la em duas partes muito distintas: “até aos 36kms” e “depois dos 36kms”.

Inscrição para Lisboa: feita!

A tshirt oficial da prova e a tshirt com que corro oficialmente.


Até aos 37kms
A corrida começou com a habitual lentidão esperada por milhares de pessoas a iniciarem as suas corridas a diferentes ritmos. Embora fosse com o tempo pensado, não comecei a acelerar muito. Primeiro, porque tinha de ziguezaguear muitas pessoas; segundo, quis aproveitar para desfrutar; terceiro, começámos a subir. Ao km 5, quando terminou a primeira subida, consegui finalmente entrar no ritmo que queria. A partir daqui, seria mantê-lo e, quando possível, aumentá-lo. Foi também por aqui que começou a chover, não parando até cruzar a meta. A minha estratégia nestas corridas é usar os outros como lebre. Ora um, ora outro. Isto ajuda-me a gerir o meu esforço, pois não sou eu que estabeleço o ritmo. Até ao km 12 foi um instante e como me estava a sentir bastante bem, acelerei um pouco, fazendo a prova até aos 21kms com parciais entre os 4:47 e os 5:08/km. A meio da prova ia com 1h52m, e foi aqui que apanhei o balão das 4h. Estava tudo bem encaminhado para conseguir o tempo que queria. A união de ir a bom ritmo, me sentir bem e o apoio daquele público, permitiu-me continuar a prova super focado e confiante. Consegui manter-me psicologicamente forte até ao início da última grande subida - com 7kms-, ao km33. A partir daqui comecei a sentir dores nas solas dos pés e nas coxas, o que me fez abrandar um pouco. De qualquer forma, disse a mim próprio que seria até rebentar e continuei a dar às pernas. A meio da subida, ao km 37, ia com 3h18m. fiz contas à vida e se conseguisse fazer os últimos 5kms em 26-27minutos, conseguiria a tal marca das 3:45.

Depois dos 37kms
O que eu não estava a contar era com o que me apareceu à frente. Não foi um muro nem uma parede. Foi mesmo um autêntico castelo, rodeado por água e tudo. Os pés estavam uma lástima, as coxas não queria levantar, a chuva caía torrencialmente, estava cheio de frio e, por muito que obrigasse o cérebro a dar ordens, o corpo não reagia. Tive mesmo de andar um pouco. Só não se viram as lágrimas por causa da chuva que me escorria pela cara e porque os óculos estavam embaciados. Foi um grande murro que levei. Vinha com uma prova tão boa, quase a roçar a perfeição e agora isto. Nem mesmo o apoio incansável do público me fazia correr e esquecer as dores. Se calhar não devia ter andado tanto no dia de sábado, se calhar não devia ter bebido álcool à noite, se calhar isto, se calhar aquilo. Tudo me passava pela cabeça. Comi uma pequena barra que tinha levado e encenei uma corrida. A coisa lá foi a ritmo lento. De repente, ouço alguém a berrar o meu nome. Um amigo que me viu e que fez questão de me dizer que eu era uma máquina. Demos um aperto de mão mas não lhe consegui dizer nada. Continuei a ritmo de caracol até ser ultrapassado pelo balão das 4h. Novo murro. Sabia que, mesmo assim, ainda seria possível acabar antes das 4h. Estava a chegar ao km 40 e decidi que, acabada a subida, iria acelerar de novo. Assim fiz. Acelerei e quando entrei no Parque do Retiro, ao ver aquela gente toda, ganhei nova alma e acelerei ainda mais um pouco. Já via o pórtico da meta lá ao fundo. O relógio já marcava mais de 4h, mas olhei para o meu relógio e vi que ia com 3h58m. Cerrei os dentes, corri, vi a meta a aproximar-se e cruzei-a de braços no ar! 3horas 59minutos 15segundos. Tinha conseguido! Tinha feito a Maratona de Madrid e ficado abaixo das 4horas! Pode não parecer nada de especial, mas quando vemos que a prova tem cerca de 700D+, pensamos que, se calhar, até é bastante bom. Fui buscar a minha tão desejada medalha e encontrar-me com o meu amor para lhe dar um beijo e um obrigado por tudo!

Eu, a medalha e a molha!

Parciais
4:45-5:00 - 6 parciais
5:01-5:15 - 11 parciais
5:16-5:30 - 9 parciais
5:31-5:45 - 5 parciais
Mais de 5:45 - 11 parciais

 
É mesmo gira! Aaah, e é minha!

 

11 comentários:

  1. É uma medalha bem gira, sim senhor! E merecida! :)
    Parabéns pelo sub-4h!
    Beijinhos e boa recuperação.

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    1. Linda! A mais bonita que recebi até hoje! :)
      Fiquei mais contente com este tempo sub-4h do que com o de Lisboa, também sub-4h. Muito por causa das condições climatéricas e do desnivel desta maratona! :D
      Se tivesse corrido assim em Lisboa, tinha feito 3h30m. Fica para este ano! :D

      Beijinhos e obrigado!

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  2. Muitos parabéns, 700+ de acumulado ainda é um bocadinho, quase que parece que foste fazer trail.

    Abraço

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    1. Mesmo! Já fiz provas de trail com subidas mais pequenas! haha

      Obrigado e abraço!

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  3. Respostas
    1. Tri, Tri-maratonista! :D

      E este ano ainda me torno penta-maratonista! hehe

      Muito obrigado e abraço!

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