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quarta-feira, 1 de abril de 2015

O dia em que me tornei Ultra-maratonista - Os primeiros 26kms do III INATEL Piodão Ultra Trail

Desculpem o titulo demasiado longo, mas agora que sou ultra-maratonista vai ser sempre tudo ultra! Até os titulos dos posts!
Pensei em escrever um único post, mas depois percebi que ninguém iria perder 3 horas da sua vida a ler isto, por isso, decidi dividir o relato. Não se importam, pois não? Mesmo que se importem, isto é meu, eu é que mando.
Vamos lá a isto? Bora!


Saí de Lisboa ainda não eram 5:30 da manhã. Sabia que a viagem era longa e que arranjar estacionamento numa aldeia que é apelidada como "Aldeia do Presépio", seria complicado. Às 8 e pouco estava a estacionar o carro e a trocar de roupa. Ainda tinha de ir buscar o dorsal que a querida Piolha fez o favor de me levantar e tentar aquecer um pouco antes da partida (que basicamente passa por saltitar no mesmo sitio enquanto meto uma foto no facebook a dizer que vou começar uma corrida). Aquecimento feito e ligo para a namorada para saber onde estavam e se me iam ver a partir. Ela disse que já estavam todos posicionados e prontos a filmar e fotografar o início da festa. Antes da partida ainda deu para cumprimentar (finalmente) o Rui Soeiro e alguns membros do Correr na Cidade, com quem treinei e com quem partilhei muitos kms desta aventura.
As 9horas estavam a chegar e todos prontos a arrancar. Fiquei mais para o fim do pelotão. Aliás, era mesmo dos últimos. à minha frente, mais de 200 pessoas que abdicaram de um dia de descanso para ali estarem. Mas sairam todos muito caladinhos... Algo tinha de ser feito. Decidi então animar o público saltando e levantando os braços como se aqueles metros já fossem uma vitória! (no facebook do Correr na Cidade é possivel ver o video da minha partida)

A tentar chamar a atenção do meu irmão.

A animar aquela malta toda!

Arranquei calmamente atrás daquela multidão. Demos uma curva e começamos a abrandar. O caminho por onde tinhamos de passar dava para 2 pessoas lado a lado. Na minha opinião cortou um pouco a adrenalina que uma pessoa leva no início. Enquanto ainda estava cá no topo, já os primeiros iam lá em baixo, por entre trilhos, quais formigas atarefadas a levar comida para a sua rainha.

Já se via malta lá em baixo!

Os primeiros kms da prova foram corridos por single track, entre vegetação e rocha. Como estávamos no início, toda a gente levava um bom ritmo, pelo que isto não foi problemático. Quer dizer, ao que parece foi para um gajo qualquer que acho que o íamos a atrapalhar. Não descansou enquanto não ultrapassou meio mundo, mesmo que tivesse que ir fora do trilho. Cerca de 2kms à frente estava sentado numa rocha agarrado a um pé e com cara de sofrimento. Eu sei que o pessoal quer correr, mas serão assim tão bons que estão a lutar por um lugar no pódio? Valerá a pena arriscar uma lesão ou magoar alguém para ganhar 10 ou 20 posições? Ao fim de algum tempo, novo abrandamento, desta vez por causa de uma pequena, mas dura, subida de escadas. Convém dizer que as escadas não são em cimento, são em xisto, esculpidas na rocha e não têm um palmo de altura. Ou bem que levantamos a perna, ou não o subimos.

Uma bela escadaria.

Depois desta escadaria e de termos passado por uma povoação, entrámos noutro tipo de terreno. Já não íamos por single track mas por estradão. O único problema, era a subir. O outro único problema, era a serpentear pela serra. Quando estou a subir, gosto de ver o final da subida, de preferência que seja uma reta. Ali, naquela serra, os kms de curva e contra-curva pareciam nunca mais acabar. Quanto mais eu olhava para cima, mais via a estrada cheia de pontos de várias cores, preenchendo a encosta como se fosse uma árvore de natal. A meio da subida, quando finalmente de dignei a olhar para baixo, pensei que estava a ver a coisa mais fantástica de sempre. Se tivesse que apelidar este trail, seria de "Trail das formigas". Porquê, perguntam vocês? Ver aqueles estradões repletos de pessoas, todas atrás umas das outras, fez-me sempre lembrar os carreiros de formigas que tanto me fascinaram quando era miúdo.

Os "carreiros de formigas".

Foram kms sempre em constante subida, sem pausas, sem descanso, sem zonas planas que desse para correr. Fiz grande parte a andar rápido, esboçando uma corrida de vez em quando mas que não durava muito. Quando chegámos ao topo e ao km 10, foi sempre a descer até ao km16, onde estava o primeiro PAC e onde se fazia a separação das provas. Foi engraçado olhar para as placas com as setas e seguir na direção da "prova dos grandes". Tantas vezes olhei para outras setas e lhes virei costas e hoje ia seguir a direção que ela indicava. Este foi o meu primeiro grande momento, era ali que eu estava realmente a dar o passo para algo completamente novo. Desci os degraus devagar e pensativo, depois levantei a cabeça e arranquei para o meu primeiro ultra.

Mas rapidamente voltei à velocidade andamento. Do km 16 e picos até aos 20, fomos presenteados com a primeira grande parede. Demorei cerca de 30 minutos para ir do K16 ao K17. Pensei para comigo que é nestas subidas que o trabalho de reforço muscular faz diferença. E acredito que tenho feito, para quem o fez. Que não foi o meu caso. Nunca senti as pernas a não quererem mexer, mas senti que ficou muito trabalho de casa por fazer. Felizmente, do K17 ao K20, o terreno era um estradão e foi dando para correr alguma coisa. O maravilhoso de subir (sim, subir não é só mau) é que no final sou sempre brindado com um qualquer cenário que me faz esquecer o sofrimento que acabei de passar. Num local destes, rodeado por montanha e por ventoinhas eólicas, senti-me no topo do mundo, capaz de saltar e de agarrar uma nuvem. Mas isso não ia acontecer porque já estava acima das nuvens.

Para a próxima, ouve o Filipe e trata do reforço muscular!

A fotografia não faz jus à beleza da Serra.

Daqui até ao km 26 foi rápido. Outra coisa boa das subidas é que no seu final há sempre uma descida. Subi a serra por um lado e desci do outro. Em Covanca estava novo PAC. Quando lá cheguei já não levava água nenhuma na mochila. Já tinha bebido os 2L, fora o que fui bebendo nos abastecimentos. Quando pedi para encher, não havia água. Naquele que era o abastecimento a meio da prova, tinham uma bancada com pouca coisa, duas pessoas e um garrafão de água que se despejava mais rápido que o que conseguiam encher. Tinham sopa que, por nunca ter experimentado antes, não comi. Podia reagir mal, o estomago podia rejeitar. Decidi ir pelo seguro e encher-me com banana e sal. Estava, portanto, eu com uma banana enfiada na boca quando uma menina se começa a aproximar de mim. Olha para mim e diz "Eduardo?". Eu, apanhado um pouco de surpresa olho para o dorsal dela e vejo o nome Rute. O meu cérebro conseguiu reagir a tempo de perceber quem era. Era a Menina! Trocamos algumas palavras, ela diz-me que não estava à espera de tanto calor, eu digo-lhe que não estava à espera que isto fosse tão duro. Ela vai reabastecer energias e passado algum tempo diz-me que vai arrancar de novo. Eu digo que fico mais um pouco.

Estou a meio da prova, passaram 4h45m e, apesar dos empenos que já tinha sentido, tinha mais vontade de acabar que antes!

10 comentários:

  1. Então? Olha outro a fazer a coisa por fases....porra pá, a malta (leia-se EU!!!), quer ler a coisa toda de enfiada....despacha lá isso... :) ...os parabéns ficam para o fim, é que aqui ainda só vais em 26km...sei lá se chegaste mesmo ao fim!!! :P
    Abraço

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    1. Não fases também os ultras por fases? Encara cada intervalo de posts como um abastecimento! :)

      Abraço

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  2. Atão até aqui já sei disso tudo... estradão e formigas e nunca mais acaba... vá e depois!?!??!! Olha-me este hein!!!! :)

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  3. Espero que não fiques muito mais tempo neste abastecimento, que ainda falta metade! ;) Eu vou andando, como te disse... :)
    Ah, no abastecimento dos 31km leva o teu tempo, reforça-te... vai ser preciso! :P
    Até já!

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    1. Fiquei só um pouco mais.
      Tu estavas muito forte! :)
      E reforcei! :D

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  4. Fico no aguardo!!!
    Eu gosto de ler a coisa por fases, parece uma novela!!

    Até já

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    1. Acha alguém que percebe que isto assim é muito mais giro e fácil de ler.. :)

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