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segunda-feira, 11 de julho de 2016

OH MEU DEUS - Ultra Trail Serra da Estrela 100K+ [Parte 1]

Uma prova que não estava no meu calendário. Uma prova para a qual não me preparei. Uma prova sem estratégia. Uma prova onde só vi o gráfico uma semana antes. Um dia de prova onde não descansei. Uma chegada à partida 5horas antes de começar.  Duas quedas, uma aos 17kms e outra aos 37kms, em ambas o que me salvou de cair para o abismo foram raízes e pedras que me travaram pela zona testicular (doloroso, mas ajudou). Manadas de vacas no meio das estradas. Rebanhos de cabras no meio dos trilhos. Uma prova perfeita até à segunda subida à Torre. Uma Garganta de Loriga demolidora. Pés com alergia, bolhas e doridos. 25kms finais de sofrimento. 36kms que demoraram quase tanto como os primeiros 72. 109kms, 5800D+, 25h34'11". A minha prova. O meu Oh Meu Deus - Ultra Trail Serra da Estrela 100K+!


Depois da pouca sorte que se abateu sobre mim na Madeira, entrei numa fase de nojo à corrida que fez com que o sofá fosse trocando os trilhos a pouco e pouco. Entretanto surgiu a oportunidade de ficar com um dorsal para o Oh Meu Deus 100K+ e pensei "Porque não?". Apesar de no pós-MIUT não ter treinado quase nada, sentia que os treinos de preparação ainda se faziam sentir no corpo e achei que esta prova seria a melhor hipótese de completar o objetivo de completar uma prova com mais de 100kms, sem ter de recomeçar tudo do início ou perder grande parte do trabalho que tinha feito. A estratégia não fugiria muito da delineada para o MIUT em termos de nutrição em prova e a gestão de esforço parecia-me ser mais fácil. Vai daí e arrisquei mesmo. Durante o mês de Maio, corri cerca de 90kms, muitos deles em plano ou com um desnível muito baixo. No dia 3 de junho, pelas 19horas, tinha o meu dorsal na mão.

O Oh Meu Deus - Ultra Trail Serra da Estrela é a verdadeira imagem de quem a organiza, tanto para o bem como para o menos bem: a Horizontes. A Horizontes tem no seu core de prova, o conceito de "maraturismo", que não é mais do que fazer turismo ao mesmo tempo que vamos a uma prova. Esta prova não foi diferente. Com várias distâncias - 160, 100, 70, 40 e 21kms - permite que cada um vá na que se sente mais confortável, que grupos de amigos participem em diferentes provas e que se encontrem todos no final para festejar. É uma organização que pauta as suas provas por percursos rolantes com zonas de grande dificuldade. A OMD não foi diferente. Tem as distâncias e o desnível suficiente para que a elite lá queira ir mostrar o que vale, ao mesmo tempo que consegue ser suficientemente "rolante" para que o atleta de fundo da tabela como eu a consiga acabar e rejubilar com o seu feito. Os 109kms que fiz são sinónimo disso: estradões largos e compridos que nos permitem soltar as pernas, a tempo de recuperarem para a subida ou descida técnica e desgastante/demolidora/violenta que se aproxima. No entanto, se há ponto onde acho que costumam estar menos bem é na marcação do percurso. E, mais uma vez, o OMD não foi exceção. Quando durante o briefing da prova ouvi o Paulo dizer que em algumas zonas teríamos dificuldade em ver as fitas e que teríamos de andar a procurar o caminho, tomei aquilo como um mau presságio, que se veio a confirmar. Se a organização faz o percurso antes da prova, se sabem que esta ou aquela zona mais complicada, o melhor mesmo é "descomplicar" e prender mais fitas. Prendê-las de 5 em 5 metros - ou menos - se for preciso. O que não pode acontecer é que durante a primeira subida à Torre, ainda noite escura e com algum nevoeiro à mistura, haja um comboio de cerca de 15 atletas à procura de uma fita que lhes indique o caminho a seguir. O que não pode acontecer é que em zonas de arvoredo alto e denso, as fitas estejam presas ao nível dos nossos joelhos, colados numa rocha ou mesmo atrás de um bloco de granito. O que não pode acontecer é seguirmos uma estrada e ao chegarmos a uma bifurcação não haver indicação de por onde ir, ou encontrarmos uma fita a 200m e depois de uma curva. Em lado algum diz que é obrigatório ter um relógio GPS para participar nestas provas, menos ainda uma pessoa é obrigada a ter um para se poder inscrever. Lembro que o vencedor deste ano do MIUT levava um Casio, daqueles dos anos 90, e nunca se enganou no caminho, precisamente pela marcação imaculada. Outro pormenor durante o percurso é a ausência de alguém da organização ou voluntários a ajudar na indicação do caminho a seguir, alguém nos cruzamentos, alguém nas zonas mais perigosas ou vá, alguém que seja durante o percurso sem ser nos abastecimentos. Eu vi pessoas a atalharem caminho durante a enorme descida em esses, depois da primeira ida à Torre. Vi quem tenha feito os esses a direito. Ok, aqui está na consciência de cada um os seus atos, mas se houvesse alguém durante o percurso a ver os atletas, sentiam-se menos corajosos para se enganarem a eles próprios. De resto, abastecimentos sempre nos kms certos, sempre com tudo e mais alguma coisa, sempre com gente simpática e a querer ajudar os atletas. A equipa médica na Torre a fazer um belíssimo serviço, impedindo que quem quer que fosse saísse de lá em risco de entrar em hipotermia. Uma medalha bem gira e uma chegada à meta com uma boa receção de quem lá passou a noite (organização e equipa médica). Um último detalhe que acho que muitas organizações fazem: ter um final de prova exageradamente difícil. Acho que o desafio da prova deve estar nos seus primeiros 90%, permitindo que os kms finais sejam de alegria e onde os atletas preparam o seu melhor sorriso para as câmaras que os esperam na meta, em vez de terem de enfrentar mais uma subida ou descida técnica, que os vai deixar a desesperar pelo fim da prova e com um ar desagradado ao cortarem a meta.

Atenção: esta é apenas a minha opinião e que não deve ser tomada como a opinião dos outros atletas que participaram no OH MEU DEUS - Ultra Trail Serra da Estrela.

Antes da partida.


PS: O resumo da prova fica para esta semana ainda!

1 comentário:

  1. Bem com tudo o que disseste, devia ser um alerta para ninguém lá meter mais os pés... mas obviamente que isso nunca acontece.

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