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terça-feira, 23 de junho de 2015

Um dia seria o primeiro.

Vou-vos contar uma estória. Daquelas em que os animais falam.
É a estória do galo fanfarrão.
Certo dia, um agricultor achou que o seu galo já era velho e que precisava arranjar um novo para galar as suas galinhas. Assim, apareceu no galinheiro com o galo novo, atirou-o lá para dentro e disse-lhe para galar as galinhas todas. A primeira coisa que fez quando chegou, o galo mais novo e mais forte, foi encher os peitos de ar e gritar que agora quem ali mandava era ele. O galo velho, não querendo perder o seu lugar, foi até ao galo novo e pediu-lhe uma oportunidade para continuar a mandar ali. O galo novo disse-lhe logo que não. Mas o galo velho insistiu e lançou-lhe um desafio: "Façamos uma corrida à volta do galinheiro. O primeiro de nós a dar 10 voltas, ocupa o trono.". O galo novo, mais forte e fanfarrão, aceitou o desafio sem pestanejar. No outro dia, pelo fresco da manhã, lá estavam os dois prontos para a corrida. 1, 2, 3, e lá arrancaram os dois. O galo mais novo, forte e fanfarrão, arrancou a alta velocidade, deixando um rasto de poeira atrás de si. De vez em quando ia ultrapassando o galo velho, dando-lhe voltas de avanço. Ao fim das 10 voltas, o galo novo, mais forte e fanfarrão, parou na meta onde o galo velho estava sentado, com os bofes de fora. O galo mais novo, mais forte e fanfarrão, rindo-se e vangloriando-se da sua vitória, perguntou ao galo velho quantas voltas tinha conseguido dar. "Só consegui dar duas voltas, mas já galei as galinhas todas", respondeu o galo velho.

Eu no fim de semana passado, fui o galo novo e fanfarrão. Não, não fiz numa corrida para ver quem galava mais galinhas, mas fiz uma corrida para a qual não estava preparado e, armado em fanfarrão, vi-me forçado a desistir. Foi na Lisbon Eco Marathon, uma maratona em pleno Monsanto, que me deixou sentado no passeio e a pedir que me levassem para a meta.

Os treinos, embora mais habituais, ainda não são constantes e suficientes para determinadas provas e, numa daquelas madrugadas longas, vi esta prova e decidi inscrever-me. Podia ter ido nos 21kms, podia ter ido nos 30kms, mas, fanfarrão, fui nos 42kms. Em Monsanto, sabia que não seria uma maratona de estrada, mas também não seria um trail a 100%, por isso, achei que seriam favas contadas. No sábado, às 17horas, já estava na zona da partida, pronto para o desafio. A partida deu-se às 18horas em ponto e os primeiros 10kms foram feitos em alcatrão, debaixo e sobre muito calor, quase sempre a subir. Mas sentia-me bem, sentia-me capaz e fui variando o ritmo entre os 6'/km a subir e os 5'/km a direito ou a descer. Fui bebendo água de 3 em 3 kms sensivelmente. O primeiro abastecimento surgiu aos 10km, onde aproveitei para beber bastante água e despejar alguma pela cabeça abaixo. Segui e aos 11kms houve novo abastecimento. Voltei a fazer o mesmo que no primeiro. Continuava a sentir-me bem, sem grande cansaço físico e a conseguir manter os ritmos pretendidos. Nas subidas, conseguia não parar. O imenso calor que se fazia sentir, obrigava-me a beber muita água e, a determinado momento, comecei a senti-la a pesar no estômago. Parei para um xixi e libertar mais água e fiz-me ao estradão. Aos 15kms, ia com 1h30m de prova e comecei a sentir alguma fome. Tirei um gel aquoso e tomei-o. Sabia de antemão que esta prova não iria ter nenhum abastecimento sólido e fui preparado com aquilo que sabia conseguir comer com o calor que estava. A meio da prova, encontrei um colega Gafanhoto que ia ficar por ali. Sentia dores nas pernas e nas costas, os treinos também não eram assim tão regulares e, por isso, decidiu abandonar. Mandou-me seguir a minha corrida e lá fui.

Não se pode dizer que o percurso fosse desconhecido para mim. Muitas das zonas são habituais dos meus treinos solitários ou quando vou com outros grupos. Sabia, portanto, as subidas que iriam dar luta e o seu tamanho. Nesta fase, comecei a guardar-me um pouco, porque as pernas começavam a dar sinas de fadiga e o estômago continuava a incomodar-me. Ao km 24, numa descida mais acentuada, o estômago deu o peido mestre e não conseguia correr sem que tivesse a sensação que me ia saltar pela boca. Arrastei-me, literalmente, até ao km 26, onde estava novo abastecimento e fiquei por ali, pedindo boleia até à meta.

Nunca tinha desistido de uma corrida. A coisa mais próxima que tive disso foi numa Corrida do Tejo em que me lesionei ao km 7 mas caminhei até à meta. Desta vez, não estava lesionado, mas estava demasiado longe da meta e do carro para ir a pé. Desisti porque levei uma tshirt de alças demasiado pequenas que fez com que a mochila de hidratação me arrancasse pele e já mal aguentava aquele roça-roça. Desisti porque não estava devidamente preparado para a prova e porque a encarei como uma coisa garantida. Fui fanfarrão e paguei por isso. Quando me deixaram a 200m da meta, tirei o dorsal, passei ao lado do pórtico e segui em direção ao carro, sem olhar para trás. Não me sinto mal em ter desistido. Como em todas as outras coisas, serve de aprendizagem. Aprendi que se não estou a 100%, ir na prova mais curta não me vai tirar nenhum mérito, e que mais vale pequena e até ao fim que grande e ficar a meio. Daqui a menos de 1 mês tenho o Monte da Lua e quero estar preparado para ele, portanto, resta-me treinar com afinco.

Sobre a organização, o que tanto se queixaram o ano passado, de falhas de marcação, este ano nada a apontar. As estradas eram fáceis de seguir e em todos os cruzamentos ou pontos de viragem, estavam os voluntários (na grande maioria crianças e jovens) a indicar o caminho e a incentivar os atletas. Foram incansáveis a ir ao encontro das várias pessoas que pediam ajuda e que quiseram desistir, mesmo levando o carro a locais de difícil acesso. Enquanto me levavam para a meta, recolhemos vários outros atletas e o telemóvel do condutor recebia chamada atrás de chamada com outros novos pedidos. Mas, para mim, a organização falhou num aspeto que tem dado que falar no Facebook, onde muitas pessoas são de opinião contrária à minha.

No regulamento avisam que não há abastecimentos. Existirão, postos de ajuda com água, onde os atletas poderão encher os seus depósitos e beber água. Isto acontece porque a organização quer ser muito ecológica e preservar a Serra de Monsanto - o que eu louvo! Por isso, as águas eram-nos dadas em garrafas de 33cl, assim às centenas. Havia, também, uma vassoura team, composta pelos caminhantes, com o principal objetivo de apanhar o lixo que os atletas da maratona e meia maratona iriam deixar. Estes caminhantes deviam levar mochila para guardar o lixo. Esta caminhada teve 30kms, e foi paga pelos participantes! Eu sei que sou um gajo que corre pouco, mas quando vejo que malta da caminhada fez a prova em pouco mais de 2horas, percebo que não foram com intenção de apanhar qualquer tipo de lixo. Mas o meu maior problema com a organização não é com o facto de terem prometido uma coisa e terem dado mesmo isso. Prometerem que só davam água e só deram água. O meu problema com a organização, e o que eu considero uma falha, é o facto de não terem fornecido um abastecimento sólido para nenhuma das provas, nem sequer para os caminhantes que iriam apanhar o lixo.

Façamos algumas contas. A caminhada começou às 18:15. Uma pessoa que fosse o caminho todo a andar, a um ritmo de 10'/km (que é um bom ritmo) demora 5horas a fazê-lo. Chegaria à meta às 23:15. Andar este tempo toda por Monsanto, a subir e a descer, a ter de carregar o lixo que fosse ficando dos outros, sem receber em troca uma banana que seja, parece-me de má fé, e uma forma da organização ter lucro fácil e não se preocupar com a limpeza após a prova. Aliás, tendo em conta os preços que se pagaram para as provas, seria de esperar outro tipo de apoio, mais completo. Mais uma vez, sei que nenhuma organização é obrigada a ter isto ou aquilo, que está explícito no regulamento as condições e que ninguém é obrigado a participar - pagando - nas provas dessas organizações, e que isto não foi o motivo da minha desistência. Mas, na minha opinião, o bom senso das pessoas deverá estar em sintonia com o das organizações e tentar que todos tenham uma manhã, tarde, noite ou dia, o mais agradável possível. Não foi o meu motivo da desistência, mas foi o de outras pessoas que se viram fracas e sem capacidades quando às 22h ainda estavam a 10kms da meta e sem comida e sem abastecimentos que lhes pudessem valer.

Mas sobre isto dos abastecimentos, voltarei num outro post para que este não fuja demasiado ao tema da prova que participei. Acho que sobre este assunto, há muito a debater e muitas opiniões completamente opostas, que poderão ajudar tanto atletas como organizações no futuro.

2 comentários:

  1. Todos temos um galo fanfarrão e um galo velho dentro de nós...
    Tomaste a decisão que achaste mais correcta, agora o Monte da Lua espera-te!
    Força.
    Beijinhos

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  2. Eu gosto de frango nochurrasco :) hmmm,isto fora do contexto...

    O galo novo em mim (mais uma vez fora do contexto é bonito, é) levou a que quase me inscrevesse na Meia mas o galo veloho e sábio disse para deixar de ser parvo e não me inscrever, que não estou em forma, que deveria e esteve calor e que já o ano passado li umas criticas algo negativas à organização, além do que a inscrição é cara.

    Por outro lado, não ganhei experiência...e isso foi o que ganhaste, já percebeste que Monsanto pode ser "rolante" mas a distância era de uma maratona, o calor era elevado, se calhar era menos água e mais isotónico e electrólitos e menos água, mais alimentos e menos geis, enfim,,,e que a camisolas de manga à cava dão.te um ar muito macho mas com mochilas...vês, não aprendi nada disso...rais...

    Abraço, e bons treinos

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