Bearded Runner on Instagram

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A queda de um mito.

Ao subir a serra, a queda de um mito.

Quando decidi começar a correr e a participar em provas, fui conhecendo novas pessoas que me foram servindo de inspiração para querer sempre um pouco mais: um pouco mais longe, um pouco mais rápido, um pouco melhor. Quando dei o salto da estrada para os trilhos, as inspirações mantiveram-se, mas surgiram novas. É natural, afinal de contas, estava a conhecer uma nova modalidade onde havia pessoas que corriam dezenas de kms, em alguns casos, centenas. E aquilo fazia-me uma imensa confusão como é que alguém era capaz de correr tanto e durante tanto tempo e estar vivo no dia seguinte para passear com a medalha ao peito. Tendo em conta que passei dois dias a gatinhar depois do meu primeiro trail de 30kms e 4 dias com um andar esquisito depois da minha primeira maratona, aquelas pessoas só podiam ser sobrenaturais.

Entre algumas dessas pessoas que passei a seguir atentamente, um gajo que se auto-apelida de "O Gordo", agarrou o 1º lugar e por lá ficou. A juntar aos seus feitos, a sua escrita agarrava-me ao ponto de obrigar a minha namorada a ler as suas crónicas e a seguir a sua página. O tempo foi passando e eu ia lendo e vendo a sua evolução e as suas provas. "O Gordo" é finisher do MIUT e finisher do UTMB, coisa que me deixava de olhos esbugalhados e queixo caído uma vez que ele era gordo... Diz que pesava muitos quilos, mais de 100, umas suiças à homem, e isso ainda me deixava mais estupefacto. Enviei-lhe um pedido de amizade pelo Facebook mesmo sem o conhecer ou ter estado com ele. Quem sabe, ele podia marcar treinos e eu até podia ir um dia com ele. Nunca aconteceu. O ir com ele, porque os treinos ele anunciava-os.

Foi, portanto, com grande satisfação que soube que ia estar com ele num treino em Sintra no sábado passado, organizado pelo ZCS. Acho que estava mais nervoso em conhecê-lo do que com o treino. Quando o vejo chegar, deixei-me estar quieto e calado no meu lugar, nem lhe estendi a mão. Ele estava a cumprimentar quem conhecia e eu era apenas o gajo novo que lhe dava pelo peito. Mas foi aqui que o mito que criei à volta desta pessoa se foi desvanecendo. Afinal "O Gordo" devia ser alcunha com muitos anos, porque de gordo não tinha nada. Aliás, a cara apresentava sinais evidentes de magreza. Ok, é um gajo grande, alto e corpulento, mas isso deve-se aos anos a jogar rugby. Suiças, nem vê-las. A única coisa que vi foram dois troncos que ele chama pernas. Juro que a barriga da pernas dele são maiores que as minhas coxas! Depois, para alguém que diz estar a aprender a correr e que corre devagar, que é sempre o último onde quer que vá, foi com alguma desilusão que o vi a passar por tudo e todos, fosse numa descida ou numa subida.

Mas a maior desilusão foi no seu carácter. Desde que comecei a ler as suas crónicas e testemunhos que o imaginei como aquela pessoa que está ali sempre para ajudar os outros, com uma palavra amiga e um incentivo quando estamos a ir abaixo. Nunca esperei, por isto, que fizesses o que me fez. Resumindo, enquanto ia o ZCS a liderar o grupo por uma daquelas subidas infindáveis e técnicas que deixam as pernas a arder, este senhor ia atrás de mim e ouvi-o dizer baixinho "Pergunta lá ao Zé se ele vai estacionar", ao que eu, cansado e sem conseguir respirar ou falar, balbuciei qualquer coisa sem nexo. Foi então que ele grita "Ó Zé, o Eduardo pergunta se vais estacionar na subida para nós te passarmos!". O que se passou a seguir foi um ZCS a desaparecer de vista e um Sr. Ribeiro a correr atrás dele, enquanto se ria e nos ultrapassava a todos.

Quando acabei de subir, o mito tinha caído.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Leilão Dorsal Solidário Fim da Europa

Olá amigas e amigos, companheiras/os de estrada e de trilhos.

Hoje venho falar convosco acerca de algo um pouco diferente.

Estava inscrito na prova Fim da Europa, a realizar no dia 31 de Janeiro na bela Serra de Sintra. Acontece que fazer essa prova será queimar dias de treino para o meu grande objetivo de terminar o MIUT, pelo que decidi não ir à prova.

Entrei em contacto com a organização sobre alterar os dados do meu dorsal para outro atleta e a resposta que recebi foi que, devido à grande procura para esta prova, seria injusto para quem não conseguiu inscrever-se antes de esgotar. Falámos mais um pouco e chegámos a um acordo.

O MEU DORSAL SERÁ LEILOADO E A MAIOR OFERTA GANHARÁ.

OBVIAMENTE que o DINHEIRO DO LEILÃO não será para mim, mas para uma INSTITUIÇÃO DE SOLIDARIEDADE. Pensei em duas instituições: Obra Padre Gregório (http://obrapadregregorio.org/) e Casa da Criança de Tires (http://www.casadacriancatires.net/), mas se quiserem doar a outra, não faz mal, claro.

E que tem este dorsal diferente dos outros? Bem, para além de ser solidário, com este dorsal poderão partir na primeira vaga, às 10h, e terão transporte gratuito para voltarem para Sintra, depois de chegarem ao Cabo da Roca, cortesia da organização.

As regras são simples. Quem quiser este dorsal, só tem de deixar aqui um comentário com a sua licitação. Caso seja a licitação vencedora, deverá efetuar a transferência desse valor para a instituição e enviar-me o comprovativo. Quem ganhar terá 24horas para fazer enviar o comprovativo. Caso não o faça, passará para a pessoa imediatamente antes.

O leilão vai estar ativo até ao dia 20 de janeiro.

A base de licitação são 15€.
Agora, quem quer ajudar? :D

PS: Quem não quiser licitar, pode sempre partilhar. ;)

Nota: As licitações terão de ser, sempre, pelo menos, 1€ acima da anterior.


Para participarem só têm de CLICAR AQUI e deixar a vossa licitação nos comentários do post.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Um Barbudo na Madeira - II


O Guloso.


Tivesse eu nascido no tempo da Monarquia e tivesse a sorte de pertencer à família real, quando chegasse a Rei o meu cognome seria, sem dúvida nenhuma, 'O Guloso'. Também poderia ser 'O Gordo', mas a verdade é que sempre fui mais guloso que gordo e, para efeitos dramáticos, guloso funciona melhor neste texto.

A minha infância e adolescência foi passada no Alentejo, afastado das cidades, onde as brincadeiras passavam por jogar ao berlinde, às escondidas, à sirumba, a saltar encostas com mais de 3metros de altura para montes de terra mais ou menos fofa. Isto criava amizades e, claro, os dias de aniversário eram dias de grande festa onde reuníamos os nossos amigos em nossa casa para comer rissóis, bolos de vários tipos, mousses de chocolate, gelatinas, tortas Dan Cake, e tudo aquilo que mais conseguíssemos empurrar goela abaixo. E eu conseguia empurrar muita coisa, mesmo muita. Não saía da mesa enquanto não tivesse provado um pouco de tudo, pelo menos duas vezes. Só quando atingi a idade adulta é que deixei de ser o guloso comilão que era e me tornei uma pessoa mais ponderada, exceção feita em rodízios de sushi.

Mas, curiosamente, foi na fase adulta que voltei a ser guloso. Não tanto por açúcar e doces, mas por outro tipo de vicio. Depois de quase 2 anos a trabalhar sentado em frente a um computador, adquiri tal forma que já tinha de desabotoar as calças para estar minimamente confortável. Decidi começar a correr. Com as primeiras corridas veio um notório emagrecimento. Com o passar dos kms em treino, decidi participar na primeira corrida oficial.  Tal como não me lembro qual foi o primeiro doce que comi e me tornou num devorador de bolos, também não me lembro qual foi a minha primeira corrida oficial. O que sei, e me lembro, é que aquele ambiente que envolve uma corrida me tornou num ávido devorador de provas. A partir desse momento, andava sempre à procura de outra e de mais outra e sempre que fazia uma, ficava logo a pensar que a teria de repetir no ano seguinte. Das provas de 10kms até à distância da meia-maratona foi um pulinho. Mas até à distância da Maratona, foram mais 4 anos. Não sei explicar porquê. Medo não era. Talvez fosse respeito pelos 42,195 metros. Sim, era mesmo isso. Respeito. Afinal de contas, se 21kms já me custavam, nem queira imaginar o que seria correr o dobro da distância. Entretanto, depois de fazer a primeira Maratona (Lisboa, 2014), fiz logo a segunda (porto,2014) no mês seguinte e uma terceira (Madrid, 2015) passados 5 meses da segunda. Em 6 meses fiz 3 maratonas. Depois de tanto tempo a controlar-me, devorei esta distância como se necessitasse dela para viver.

Mas se na estrada tive um percurso pautado por alguma sensatez com o aumentar nas distâncias, nos trilhos a história foi um pouco diferente. Em finais de Outubro de 2014 fiz a minha primeira prova de trilhos, coisa de 14kms, que me deixou completamente louco pela modalidade. A fome que me deu foi tanta, mas tanta, que em Dezembro já estava a fazer uma prova de 30kms - que me levou 5horas a completar e me deixou sem conseguir andar sem arrastar os pés nos dois dias seguintes - e em Março de 2015 estava a fazer o meu primeiro ultra trail, o Inatel Piódão Ultra Trail, com 53kms - que me levou 10h27' a concluir. No espaço de 5 meses passei de uma prova de nivel 1 de 14kms para uma prova de nivel 3 com mais de 50kms. Pior, daqui por 3 meses vou estar a correr no Madeira Island Ultra Trail, uma prova com 115kms. Uma prova que muitos lá vão depois de alguns anos a correrem, de muitas outras provas e quando se sentem realmente preparados. Eu, vou lá 16 meses depois da minha primeira incursão nos trilhos.

Isto será o equivalente a ver uma mesa cheia de bolos, inclinar uma ponta, colocar-me na outra de boca aberta e deixar entrar tudo, pratos incluídos.


Como ainda tenho algum discernimento, percebi que se queria enfrentar uma 'mesa' destas, teria de encontrar alguém que me ajudasse. Depois de o encontrar, foi-me pedido que lhe enviasse o meu historial de treinos e kms corridos nos anos anteriores. Em 2013 tinha 350kms corridos, em 2014 620kms e em 2015 - até à data da conversa - tinha pouco mais de 1400kms. Ao ver estes dados, a conversa com o treinador foi mais ou menos isto:
- "Eduardo, estive aqui a ver os teus dados e se calhar deixamos o MIUT para o próximo ano, que achas?"
- "Mas eu sou capaz..."
- "A inscrição já está feita?"
-"Já...."
- "Bem, então não há nada a fazer e temos de trabalhar a sério."

Não é preciso ser-se um génio para perceber que posso estar a ter mais olhos que barriga, que estou a ser um guloso da pior espécie e que me posso dar muito mal durante a prova. Eu também percebo isto. Sei que tenho de ter um 'estômago' muito bem treinado para conseguir engolir o que aí vem. Sei que estou a trabalhar afincadamente para que esta gulodice não resulta num ataque de diabetes e que tenha de desistir de comer este belo e enorme 'doce'.

Espero, acima de tudo, ter mais pernas que barriga!